sábado, 26 de março de 2011

Assis Valente, o poeta desta gente bronzeada

“Já faz tempo que eu pedi / Mas o meu Papai Noel não vem / Com certeza já morreu / Ou então felicidade / É brinquedo que não tem" (Boas Festas).

Ou:

"Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor / Eu fui à Penha e pedi à padroeira para me ajudar / Salve o Morro do Vintém, pendura a saia que eu quero ver / Eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar" (Brasil pandeiro).

Estas são canções que fazem parte da trilha sonora brasileira desde a década de 1940, de forma tão arraigada que muita gente pode supor que fazem parte do folclore nacional. Não fazem: seu autor, o baiano Assis Valente comemoraria 100 anos de idade semana passada dia 19 de março. Já com dez anos de idade era um admirador de poetas que moram no coração do povo, como Castro Alves ou Guerra Junqueiro; foi nessa idade que começou sua carreira artística, juntando-se a um circo mambembe, com o qual foi para Salvador, onde estudou no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, tornando-se protético. Mudou-se para o Rio de janeiro aos 18 anos de idade, onde trabalhou como protético, publicou alguns desenhos e compôs seus primeiros sambas, que ganharam sucesso na voz dos grandes cantores de então, como Carmem Miranda, Orlando Silva, Francisco Alves e muitos outros.

Personalidade depressiva, por várias vezes tentou o suicídio. A última, fatal, ocorreu em 11 de março de 1958, desesperado por dívidas que não conseguia pagar. Neste sentido, foi um herói da luta pelos direitos autorais. A lei, na época, reconhecia a venda de obras artísticas e Assis Valente, que era um compositor prolífico (chegava a compor uma canção por dia), vendia suas produções a preços muito baixos, como era costume então. No dia de sua morte, ele fora ao escritório de direitos autorais, mas não conseguiu receber o dinheiro que lhe deviam; deram-lhe apenas um calmante.

Sentando-se num banco na praia do Russel, no Rio de Janeiro, tomou formicida, deixando no bolso um bilhete que dizia: "Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo" (JCR)


Músicas

Brasil Pandeiro





Chegou a hora dessa gente bronzeada
Mostrar seu valor
Eu fui à penha fui pedir à padroeira para
Me ajudar
Salve o morro do vintém, pindura-saia,
Eu quero ver
Eu quero ver o tio Sam tocar pandeiro
Para o mundo sambar

O tio Sam está querendo conhecer
A nossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana
Melhorou seu prato
Vai entrar no cuscuz, acarajé e abará
Na casa branca já dançou a batucada
De ioiô e iaiá

Brasil, esquentai vossos pandeiros iluminai os terreiros
Que nós queremos sambar

Há quem sambe diferente
Noutras terras, outra gente
Um batuque de matar
Batucada, reuni vossos valores
Pastorinhas e cantores
Expressões que não tem par
Oh! Meu Brasil

Brasil, esquentai vossos pandeiros...


Boas Festas



Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem


O mundo não se acabou



Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite lá no morro não se fez batucada
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou
Chamei um gajo com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão
Agora eu soube que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
Vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou


Camisa Listrada





Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão

Tirou o anel de doutor para não dar o que falar
E saiu dizendo eu quero mamar
Mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar

Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão
Levou meu saco de água quente pra fazer chupeta
Rompeu minha cortina de veludo pra fazer uma saia
Abriu o guarda-roupa e arrancou minha combinação
E até do cabo de vassoura ele fez um estandarte
Para seu cordão

Agora a batucada já vai começando não deixo e não consinto
O meu querido debochar de mim
Porque ele pega as minhas coisas vai dar o que falar
Se fantasia de Antonieta e vai dançar no Bola Preta
Até o sol raiar



http://www.vermelho.org.br

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