quinta-feira, 24 de março de 2011

Presidentes da UNE, Ubes e ANPG falam sobre a Jornada de Lutas

Em meio à intensa Jornada Nacional de Lutas 2011, que ocorre neste mês de março, o Portal Vermelho reproduz entrevista da União da Juventude Socialista (UJS) com os presidentes das três entidades que organizam a mobilização em prol da Educação no Brasil: Elisangela Lizardo, da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), Augusto Chagas, da União Nacional dos Estudantes (UNE), e Yann Evanovick, da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

UJS
  Elisangela Lizardo (ANPG), Augusto Chagas (UNE) e Yann Evannovick (Ubes)

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No bate-papo, eles falaram sobre as bandeiras da Jornada e como elas influenciam as estratégias e reivindicações de suas respectivas entidades, além de tratarem das expectativas quanto ao resultado das atividades que irão tomar conta das grandes cidades brasileiras durante os próximos dias. A jornada ocorre todos os anos no mês de março, em homenagem ao estudante Edson Luís, assassinado pela ditadura militar em 1968.

- Elisangela Lizardo (ANPG)

UJS: A ANPG Lançou um abaixo-assinado pelo reajuste das bolsas de pesquisa e, em cinco dias, vocês recolheram 21 mil assinaturas. Que fenômeno foi esse e a que você atribui a participação massiva dos jovens cientistas?

Elisangela Lizardo: Na verdade o abaixo-assinado começou a circular no dia 23 e cinco dias depois já tinha essas 21 mil assinaturas. Hoje são quase 40 mil. O motivo da adesão massiva dos pós-graduandos ao texto é a defasagem do valor das bolsas – há 3 anos sem qualquer reajuste –, que não é suficiente para garantir plenas condições para que o pós-graduando desenvolva a sua pesquisa. Além disso, o abaixo-assinado apresenta um importante debate sobre uma política macroeconômica que se apoia no tripé câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário, favorecendo com isso o pagamento de juros em detrimento de investimentos fundamentais ao desenvolvimento do país. Isso se expressa, por exemplo, no corte de R$ 1,7 bi no Orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia e R$ 3 bi no Orçamento do Ministério da Educação. Pautamos esta campanha porque acreditamos que apenas a partir da pressão da sociedade organizada alcançaremos os avanços que representarão a vitória da opinião que elegeu o atual governo. E, para a ANPG, um desses avanços deve ser uma política consequente de valorização das bolsas de pesquisa, elemento-chave à construção de um país soberano com um projeto calcado no desenvolvimento científico e tecnológico. Para que a campanha se capilarize, as APGs e pós-graduandos de todo o país devem abraçá-la, divulgando o abaixo-assinado e promovendo atividades com debate e distribuição do material da campanha nas universidades.

UJS: A ANPG está se mobilizando para a eleição da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Qual é sua expectativa para esse processo?

Elisangela: A ANPG mantém uma relação histórica com a SBPC pela natureza das duas organizações. Participaremos dessas eleições como participamos da anteriores, certos de que a diretoria que for eleita estará a serviço do estímulo ao pensamento crítico na comunidade científica nacional e procurando estabelecer pontos convergentes na plataforma de atuação das duas entidades.

UJS: Quais são as principais reivindicações da ANPG nesta Jornada de Lutas?

Elisangela: A bandeira central que temos levantado é realmente a campanha pelo reajuste de bolsas de pesquisa, pelo impacto que esta política tem na formação dos recursos humanos do país. Entretanto, nos somamos à UNE e à Ubes na defesa dos 10% do PIB para a Educação, bandeira histórica do movimento educacional brasileiro, e também pelos 50% do pré-sal para Educação, Ciência e Tecnologia. Da mesma forma, levantamos conjuntamente as bandeiras que pautam a expansão das vagas nas universidades públicas, a regulamentação do ensino privado, a valorização dos professores, a expansão da educação integral no ensino fundamental e o combate ao analfabetismo. Para apresentar essas bandeiras, estamos buscando a construção de agendas em Brasília na semana da jornada.



- Augusto Chagas

UJS: Como você avalia esses quase três meses do Governo Dilma Rousseff? Fale um pouco também da visita de Barack Obama ao Brasil.

Augusto Chagas: O movimento social brasileiro protestou com razão à vinda de Obama ao Brasil. O presidente norte-americano traz na bagagem o fato de não ter cumprido nenhum dos seus compromissos quanto à política externa americana na ocasião em que foi eleito. Veja os casos das torturas em Guantánamo, o bloqueio a Cuba, as guerras no Iraque e Afeganistão. Obama se aproveitou da vinda ao Brasil e anunciou mais uma guerra, a da Líbia. Isso desmascara também a visão que os EUA têm sobre o futuro do mundo, da qual discordamos. Por isso nos posicionamos contra sua visita. 
Em relação ao governo Dilma, ainda é muito cedo para uma opinião. O fundamental é a expectativa de que ela cumpra os compromissos feitos na sua eleição. Dilma foi eleita para trazer avanços aos trabalhadores, melhorar a educação e as políticas sociais. É isso que queremos ver!

UJS: Quais atividades estão programadas para essa Jornada de Lutas e qual a expectativa da UNE no que diz respeito aos resultados dessa mobilização?

Augusto: A expectativa é muito grande! Será uma semana de intensa mobilização. Na segunda, tivemos o Dia Nacional de Ocupações, com mais de 120 atividades em todo o país. Nos próximos dias, realizaremos passeatas em todas as capitais do país. Tudo isso para chamar a atenção da sociedade sobre o debate do Plano Nacional de Educação que está no Congresso Nacional. Queremos que o debate seja feito por toda a sociedade e os estudantes têm opiniões a dar. E temos reivindicações relacionadas ao financiamento da educação: queremos que o Plano defina em 10% a meta de investimento do PIB até 2010 e que determine que 50% do Fundo Social do Pré-Sal seja destinado a educação. O Brasil precisa definir o setor como seu próximo grande desafio!

UJS: As entidades articularam e aprovaram no Congresso Nacional a destinação de 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a educação e o ex-presidente Lula vetou a medida. Você acha possível que a presidente Dilma volte atrás nessa decisão?

Augusto: Vamos cobrar da presidente Dilma que se reverta isso, ela sempre se mostrou simpática à ideia. Mas não vamos contar apenas com isso. Os estudantes estão acostumados a lutar por aquilo que acreditam e as grandes conquistas nunca vêm facilmente. Vamos nos mobilizar e luta pelos 50% do Pré-Sal!!



- Yann Evanovick

UJS: Quais as principais atividades que a Ubes programou para a Jornada de Lutas?

Yann Evanovick: No dia 21 realizaremos diversas ocupações em escolas técnicas em geral, mas com centralidade nos IFET’s. A Ubes vai estar em todas as capitais do Brasil, mas esperamos que em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília possamos construir os maiores atos da Jornada. Em Brasília existe a possibilidade da presidente Dilma nos receber. Estão previstas cerca de 40 passeatas em todos os estados do Brasil e cerca de 120 ocupações, considerando que a UNE também ocupará as universidades.

UJS: Qual a opinião da Ubes sobre o Pronatec?

Yann: Achamos importante que haja um processo de aceleração da formação de jovens para o mercado de trabalho. Porém, pedimos ao MEC que nos envie as metas de expansão do ensino técnico público, pois não abrimos mão de que esse processo continue a passos largos, tendo como centro as instituições públicas. Um programa que trate de um segmento tão importante como esse deve ser amplamente discutido com os movimentos sociais e toda a sociedade. Portanto, antes de tudo, exigimos do governo Dilma um diálogo com o movimento estudantil, não só sobre o Pronatec, mas sobre todas as pautas educacionais.

UJS: Segundo levantamentos recentes, como o Censo 2010 e a Prova Brasil 2009, somente cerca de metade dos estudantes matriculados no Ensino Médio conclui o curso. Que propostas da Jornada de Lutas serviriam para alterar esse quadro?

Yann: O ensino médio brasileiro passa por muitos problemas e cabe nesse próximo período se fazer uma grande discussão sobre o assunto, o que já estamos fazendo nos marcos do debate do Novo PNE. A Ubes acredita que o centro do problema se dá em dois quesitos: qualidade e função social. Hoje o ensino médio vive uma crise de identidade e não serve para conduzir o estudante à universidade pública, apesar dos avanços recentes.

Fonte: UJS

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